A crença em anjos e demônios revive de modo exuberante em nosso tempo, apesar de todo um esforço realizado ao longo de séculos no sentido de purificar a fé daquilo que a ela se havia agregado em termos de mitos e crendices. Neste contexto o problema da possessão demoníaca e as práticas exorcísticas readquirem vigor e atualidade. O presente trabalho visa uma reflexão sobre a prática do Jesus histórico, a partir destes impulsos provenientes da conjuntura atual. Um dos aspectos importantes da atividade pública do Jesus histórico consiste na libertação de pessoas oprimidas da atividade pública do Jesus histórico consiste na libertação de pessoas oprimidas por espíritos impuros. Muitos outros, pagãos e judeus, dedicaram-se a esta tarefa, mas nos evangelhos sinóticos atesta-se que Jesus deu um significado especial aos seus exorcismos: eles são o sinal de que o Reino de Deus está-se aproximando. Na cristologia este aspecto na prática de Jesus nem sempre foi contemplado com a importância que merece. Na linha da nova questão do Jesus histórico inaugurada por Käsemann e Robinson, é possível, a partir dos dados contidos nos textos canônicos, resgatar esta parte tantas vezes esquecida ou menos valorizada daquilo que foi a prática de Jesus de Nazaré. Esta prática libertadora não se restringe à esfera do indivíduo e da religião. Possessão demoníaca deve ser compreendida dentro do conjunto da realidade sociopolítica. De igual maneira devem ser entendidos os exorcismos. Por isso a metodologia utilizada é a do método histórico-crítico aliado a uma exegese sociopolítica. Mediante os dados evangélicos criou-se todo a uma tradição da crença na possessão demoníaca que chega até aos nossos diais. Hoje é preciso perguntar-se: o que pode ser feito, para que nossa prática cristã corresponda àquilo que Jesus queria com sua atividade exorcista? Esta é a questão hermenêutica. Este estudo restringe-se à análise da prática de Jesus narrada no evangelho de Marcos, que entre os sinóticos, é o que, com suas quatro narrativas de exorcismos, maior importância concede à atividade exorcística de Jesus.