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Estudos Teológicos 2005 > Vol. 45, Nº 02 > Editorial Editorial
Em fevereiro de 2006, realizar-se-á, em Porto Alegre, RS, a 9ª Assembléia Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) sob o tema “Deus, em tua graça, transforma o mundo”. Paralelamente ocorrerá o Congresso Ecumênico sob o tema “Missão e Ecumenismo na América Latina”.A realização de ambos os eventos motivou o planejamento e a publicação de um número temático de Estudos Teológicos em torno do tema ecumenismo e missão. Agradecemos ao Prof. Dr. Rudolf von Sinner (Escola Superior de Teologia) pela sua colaboração no planejamento e nos encaminhamentos afins para a publicação deste número. Von Sinner é professor de Teologia Sistemática, Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso e coordenador do congresso supracitado. Apresentamos brevemente as contribuições dos autores deste número. Gottfried Brakemeier, em Clamor por reforma: o Conselho Mundial de Igrejas em Porto Alegre, 2006, a partir do tema da 9ª Assembléia Geral do CMI, a transformação do mundo por Deus em sua graça, reflete o tema da referida assembléia bem como as motivações, implicações e dimensões do mesmo. A Igreja cristã, como portadora da mensagem de Deus, tem fundamental compromisso em anunciar que a fé não é somente assunto privado, mas, através do amor, diz respeito ao coletivo. Assim, o tema da assembléia da CMI desafia para o rompimento da perplexidade que paralisa e para a criação de relações de confiança e reconciliação. Como premissa para a sustentabilidade, o autor propõe que, num mundo em que há a obsessão pelas conquistas científicas, haja uma conjugação entre sabedoria e ciência. Igrejas e ecumenismo: uma relação identitária é a proposta de Elias Wolff. Segundo ele, o ecumenismo, proposto pelo Vaticano II como forma de restaurar a visibilidade histórica da unidade da Igreja, é fundamental para a força e voz profética da Igreja, de forma que ela possa dar testemunho da unidade, da comunhão e da solidariedade no mundo. Após analisar as relações de tensão entre as igrejas e o movimento ecumênico e vice-versa, o autor propõe “por onde ir” e desafios que se colocam para as igrejas e o movimento ecumênico. Reconciliação como missão de Deus – Igreja como comunhão reconciliante é a proposta de Jacques Matthey. Em seu artigo, o autor reflete a relação entre missão de Deus (missio Dei) universal e a tarefa específica da Igreja. Ele propõe explicitar essa relação a partir de dois pontos fundamentais, a saber, missão e unidade, e testemunho e diálogo das religiões. Ressalta a necessidade de se fazer da Igreja uma comunidade reconciliadora, o que exige tolerância no campo eclesiológico e o amor, como o maior dom do Espírito Santo, como curador e reconciliador. Zwinglio M. Dias, Para uma comunidade ecumênica, solidária e cidadã; algumas anotações ético-teológicas para o agir ecumênico contemporâneo, elabora algumas direções de cunho ético-teológico como auxílio para os novos desafios colocados pela globalização. A partir da caracterização do contexto atual, o autor reflete o papel da Igreja como lugar para o compartilhamento da vida, como recriadora da vida em sentido integral e como lugar para iguais, em contraste com a realidade caracterizada pela desigualdade. Christine Lienemann-Perrin, em Conversão no contexto interreligioso; uma perspectiva missiológica, analisa modelos, motivos e formas de conversão nas sociedades ocidentais da modernidade tardia. Analisa o conceito de conversão no Novo Testamento, o diálogo com as teologias evangelical e carismática e a contribuição missiológica para uma pesquisa interdisciplinar sobre o tema. Vítor Westhelle, em Igreja e tradição: opções e obstruções ecumênicas, analisa as concepções distintas da relação entre Escritura e tradição existentes nas teologias católico-romana e protestante, a saber, que o catolicismo se vale de suas fontes e normas – Escritura Sagrada e tradição –, enquanto que o protestantismo se vale unicamente das Escrituras Sagradas. A partir da constatação de que a formação do cânone bíblico se deu dentro da tradição teológica e eclesial, o autor propõe não simplesmente contrapor Escritura e tradição, mas falar da tradição em três níveis. “É preciso, portanto, desenvolver uma teologia disposta a construir conhecimento em profundo diálogo com as diferentes formas de fazer no cotidiano”, defende Antonio C. de Melo Magalhães em Invenções religiosas no cotidiano e teologia narrativa. A partir do conceito de invenções religiosas no cotidiano, de Michel de Certeau, o autor analisa o sincretismo, especialmente no pentecostalismo e carismatismo, enquanto marginalizado na reflexão teológica na América Latina. Procura demonstrar que, em meio à cultura popular nos grandes centros urbanos brasileiros e latinoamericanos, o povo inventa novas linguagens religiosas. A partir disso, defende a idéia de que há “caminhos para a teologia em sua inserção no cotidiano”. Em Paulo Freire no Conselho Mundial de Igrejas em Genebra, Balduino A. Andreola analisa a biografia de Freire, particularmente no que se refere à sua decisão em aceitar o convite para atuar no Conselho Mundial de Igrejas (CMI) em Genebra, em 1969, após seu exílio no Chile (desde 1965) em decorrência do regime militar imposto no Brasil. No CMI, Freire trabalhou durante dez anos. Lá, ressalta o autor, Freire fez uma “nova opção preferencial”, isto é, em favor da alfabetização de comunidades africanas. O autor procura caracterizar como, a partir de sua atuação em Genebra, Freire passou a olhar a África de forma amorosa e encantadora. Diálogo entre a leitura popular e a leitura feminista da Bíblia é o que propõe Elaine G. Neuenfeldt. A partir do instrumental da Leitura Popular da Bíblia, denominado de triângulo hermenêutico (realidade, texto/Bíblia e comunidade), que se caracteriza pela forma circular e espiral, as experiências cotidianas das mulheres se constituem em portas de entrada para determinado texto bíblico. Segundo a autora, essas “experiências são cultural e socialmente construídas, são históricas e permeadas pelas relações de poder”. Em especial, a autora defende a suspeita como um dos principais instrumentais metodológicos da Teologia Feminista que permite uma leitura crítica da tradição, traduções de textos, linguagens e terminologias inovadoras. Paz seja nessa casa! O caminho da paz para um mundo transformado – Reflexões a partir de Lucas 10.1-11 é o tema refletido por Marga J. Ströher. Segundo a autora, as palavras “a paz esteja nesta casa!” caracterizavam-se como a primeira manifestação dos seguidores de Jesus ao chegarem aos locais de missão. A isso, se seguia a oferta de alimento pelos anfitriões e pelas anfitriãs. A partir do texto de Lucas, Ströher propõe implicações teológicas e éticas da paz a partir da motivação pelo CMI para a Década Ecumênica para a Superação da Violência (2001-2010), a saber, “As Igrejas em busca de reconciliação e de paz”. Uwe Wegner, em A dialética entre lei e Evangelho à luz do Novo Testamento: inferências éticas e homiléticas, reflete e avalia os conceitos de lei e evangelho do reformador Martim Lutero em perspectiva dialética. Analisa o valor ético da pregação da lei e apresenta seis teses sobre o impacto ético decorrente da transformação da “lei” pelo evangelho. Aponta para algumas patologias que decorrem da não distinção clara entre lei e evangelho, a saber, quando a lei é confundida com o evangelho ou quando o evangelho é pregado como lei. Em seu artigo intitulado De fé em fé, caminhamos!, Roberto E. Zwetsch analisa os conceitos de fé e missão a partir de Lutero e da práxis missionária pós-Reforma. A partir da constatação de ser a sociedade brasileira cultural e religiosamente diversificada, o autor desenvolve alguns aspectos para uma teologia da missão evangélico-luterana para as duas igrejas luteranas brasileiras, a saber, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Sugere que “a missio é o espaço e o compromisso que pode nos libertar e unir”. Ao final, ainda apresentamos uma recensão do livro de José Bittencourt Filho intitulado Matriz Religiosa Brasileira: religiosidade e mudança social realizada por Roberto E. Zwetsch. Aos leitores e às leitoras desejamos que os artigos deste número de Estudos Teológicos contribuam na reflexão teológica e na constante busca por uma práxis cristã solidária e reconciliadora. Wilhelm
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