xxx

Estudos Teológicos 2006 > Vol. 46, Nº 02 > Editorial

Editorial


Estudos Teológicos reúne, neste número, sobretudo artigos em torno do tema do Ensino Religioso, a partir da iniciativa do Departamento de Educação (DEPED) da Escola Superior de Teologia (EST). Ao final, também são apresentados artigos em torno de temáticas bíblica, histórico-sistemática e prática.

No primeiro artigo, apresentamos O Ensino Religioso: uma questão paradigmática no currículo a partir da interdisciplinaridade, de autoria de Henri Luiz Fuchs. O autor reflete o lugar e o caráter do Ensino Religioso no currículo escolar. Defende a idéia da necessidade de interdisciplinaridade do Ensino Religioso de forma que possa contemplar o ser humano na integralidade, superando, portanto, o caráter fragmentário propagado pela Modernidade. Considerando a escola e a educação lócus da construção de "identidades", Fuchs pergunta pelo conteúdo do currículo, seu caráter interdisciplinar, bem como a própria interdisciplinaridade do Ensino Religioso.

Manfredo Carlos Wachs, em A compreensão de mitos e a expressão da identidade docente, reflete "o fazer-pedagógico, pensar-pedagógico, ser-pedagógico e o conviver-pedagógico de educadores a partir de figurações, imagens e histórias míticas". Isso o leva a relacionar e refletir a identidade docente a partir dos mitos de Narciso e Eco, caracterizando o professor Narciso e o ecoísta, apontando, ao final, para um equilíbrio entre ambos na pessoa do professor.

Laude Erandi Brandenburg, através de Concepções epistemológicas no Ensino Religioso – desafios para a práxis, sistematiza e apresenta os resultados de seu projeto de pesquisa intitulado "Ensino Religioso – concepções e práticas na rede estadual de escolas/RS". Quatro aspectos são referenciados em torno dos quais organizou e analisou as categorias conceituais epistemológicas do Ensino Religioso: área relacional, religiões, confissão cristã e culturas.

Também Gisela I. W. Streck, em Adolescentes e religiosidade: aportes para o Ensino Religioso na escola, apresenta resultados de sua pesquisa entre alunos e alunas adolescentes em três escolas luteranas ("Adolescentes e Ensino Religioso em escolas confessionais luteranas da IECLB"). O objetivo da pesquisa foi compreender a religiosidade na adolescência a partir da fala de alunos e alunas sobre Deus, buscando perceber as mudanças da imagem de Deus. Ao final, a autora tece considerações teológico-pedagógicas que a pesquisa suscita.

O lugar e o papel dos símbolos no processo educativo-religioso é a análise de Remí Klein. O autor percebe que histórias e experiências religiosas são permeadas por símbolos religiosos. A partir de Paul Tillich, segundo o qual "a linguagem da fé é o símbolo", aponta para a importância, o papel, o poder e o lugar do símbolo na educação religiosa.

Alvori Ahlert analisa a Educação, ética e cidadania em Johann Amos Comenius: aproximações com Paulo Freire. O autor reflete conceitos fundamentais em Comenius e os relaciona com o pensamento de Freire: educação como diálogo, humanização, conhecimento e, sobretudo, ética e cidadania. Dessa forma, a educação é "caminho para se chegar à libertação e à salvação de todos", ou seja, ela é o caminho da humanização.

Reinhard Feldmeier enfoca Os que aparentam ter poder a partir da perspectiva neotestamentária, contrapondo o texto de Rm 13 ao de Ap 17-18. O autor fundamenta as perspectivas contrastantes em ambos os textos a partir dos contextos e experiências distintas feitas por pessoas cristãs com o poder secular. Avalia, contudo, que os contrastes entre textos não podem ser explicados somente a partir dessas experiências distintas. Isso o leva a refletir o conceito "poder" no Novo Testamento.

A Europa e a diáspora evangélica – as pedras angulares do protestantismo como contribuição à casa européia é o título da contribuição de Karl-Christoph Epting. Ele constata que "há pouca inquietação protestante na Europa" na atualidade. Contextualizando o significado dos conceitos "evangélico" e "protestante" no âmbito da Reforma do século XVI, defende a idéia de uma identidade do protestante de maior inquietação, inconformidade e testemunho do Evangelho em prol do "desenvolvimento social da justiça, paz e liberdade reconciliada".

Carlos Eduardo B. Calvani, em Transformação, testemunho e diálogo – reflexões missiológicas a partir de Tillich, reflete a preocupação pastoral do referido teólogo. Embora Tillich não tenha escrito uma obra específica sobre missiologia, em seus escritos, podem-se encontrar, aqui e acolá, reflexões sobre o tema. Calvani ensaia uma análise do tema da missiologia a partir de três textos do teólogo, dos quais os dois primeiros ainda não estão traduzidos para o português: "Missions and Word History", "Bampton Lectures" e "A presença espiritual", este publicado no terceiro volume de sua Teologia sistemática. Calvani procura demonstrar que, em Tillich, "missão" deve ser compreendida como "transformação", "testemunho" e "diálogo".

Capa: o jeito luterano de atuar com os pequenos agricultores no Sul do Brasil é a contribuição apresentada por Tarcísio Vanderlinde. O autor apresenta as origens do Capa – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor –, contextualizando-o no âmbito do XIII Concílio Geral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), ocorrido em 1982. O autor ressalta o caráter mediador do Capa, focando sua atuação, organização, metodologia. Finaliza sua contribuição, tecendo considerações sobre a "nova paisagem" do Capa.

Desejamos a cada leitor e leitora que os artigos apresentados possam motivar novas reflexões e pesquisas nos diferentes âmbitos enfocados pelos autores e autoras que contribuíram neste número de Estudos Teológicos.

Wilhelm Wachholz
Editor